sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Eu preciso ser aceito?

O psicólogo americano Abraham Harold Maslow, um dos principais teóricos da Psicologia Humanista, acreditava na tendência individual da pessoa para se tornar auto-realizadora; sendo este o nível mais alto da existência humana. Maslow criou uma escala de necessidades a serem satisfeitas e, a cada conquista, nova necessidade se apresentava. Isso faria com que o indivíduo fosse buscando a auto-realização, pelas sucessivas necessidades satisfeitas. Dentre essas necessidades estão às necessidades afetivas, ou seja, todos nós seres humanos temos a necessidade de sermos aceitos, amados e acolhidos. Não haveria nada de complicado nisso, se nós mortais não fossemos tão exigentes a ponto de almejar receber isso de todos os seres humanos. Será que não é querer demais? Infelizmente sofremos sem entender o porquê fulano ou ciclano não me aceita. E porque teria que aceitar? As pessoas são livres e tem total liberdade para fazer as suas escolhas. Se por algum motivo alguém não me aceita, que problema há nisso? As pessoas criam os seus padrões e esforçam-se para viver dentro deles. A questão de ser aceito ou não, não significa que deixamos de ter valor, mas que simplesmente não estamos dentro dos padrões estabelecidos pelo outro. E nem podemos criticá-lo por isso, já que também temos os nossos próprios padrões. E assim formam-se os grupos e consequentemente nascem as divisões. É bem mais cômodo me relacionar com os que pensam como eu, a me estressar com aqueles que discordam de tudo. Irritamo-nos com aqueles que não nos aceitam, mas não percebemos que assim como eles, deixamos de aceitá-los também.
Nessa minha trajetória de vida, fui percebendo como muitas vezes repudiei as pessoas que têm facilidade em criar estereótipos, e sem enxergar, incontáveis foram os momentos em que fiz o mesmo. É tão fácil generalizar ou pressupor, segundo as características externas, tais como aparência, roupas, condição financeira, comportamento, cultura, religião, sexualidade. Muitas vezes somos vitimas de rótulos, como também rotulamos as pessoas. Infelizmente rotular pode muitas vezes causar impactos negativos à vida do outro. Qual é a função do rótulo? Descrever um produto ao qual não temos acesso diretamente. Muitas vezes por estarem totalmente enlatados ou empacotados.
Nessa última viagem meu esposo e eu estávamos à procura de um determinado produto, apelidado por nós de tesouro, pelo fato de procurar em dois shoppings e encontrar duas unidades, quando queríamos três. Estávamos com a opinião formada, sabíamos o que queríamos. Já exaustos entramos em uma das lojas e a vendedora disse: Esse produto esgotou, mas tenho outro melhor; coitada, a ela não foi dada a oportunidade de apresentação, não queríamos ouvi-la. Conhecíamos o que queríamos. Voltamos ao outro shopping para buscar a outra unidade, já que havíamos comprado uma. Chegando à loja o vendedor disse: Acabou de ser vendido, a cliente está efetuando o pagamento. Eu disse: Desisto, meu esposo concordou. Antes de sair, o vendedor disse: Tem outro melhor do que ele, mas não chegou na loja ainda. Paramos para ouvir, já que era o mesmo que a vendedora da outra loja tentou sem sucesso nos apresentar. Meu esposo disse: Explique o porque ele é melhor. Depois de ouvir um pouco, saímos e decidimos esperar. Agora vamos ter que pesquisar para saber exatamente qual é o melhor. Entramos numa última loja e encontramos outro vendedor que nos falou desse outro produto, convencendo-nos a mudar de opinião. Claro que a busca ao tesouro continuava, o produto não tinha naquele shopping, voltamos correndo para o outro para buscar as únicas unidades existentes ali.
O maior aprendizado disso tudo foi perceber o quanto a nossa opinião a respeito de alguém pode ser facilmente influenciada, mesmo quando a conhecemos profundamente. Ouvir duas ou mais pessoas que criaram estereótipos a seu respeito, mas que tem ótimo poder de convencimento podem mudar rapidamente a sua visão.
Sendo assim, precisamos reavaliar o nosso conceito sobre aceitação e acolhimento. Ser aceito não é fazer com que as pessoas concordem com o nosso estilo de vida ou escolhas, mas fazer com que elas nos respeitem por isso, até porque, por mais conhecimento que haja entre duas pessoas, corre-se o risco de qualquer apresentação bem feita fazê-la mudar de opinião. Quando conquistamos o respeito, ai sim, conseguimos ser aceitos. Eu não concordo com o seu estilo, mas eu te respeito. Ser aceito é ser respeitado. Somos respeitados quando temos plena convicção de quem somos e principalmente das nossas próprias escolhas. Isso é o máximo que podemos esperar daqueles aos quais só tiveram acesso aos nossos rótulos.


Mônica Bastos

“Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.” (Jeremias 9:24)



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